05 novembro 2007

FINALMENTE A VOLTA !!!

Glasair PT – ZMA voltando para o Brasil

Texto e fotos deste Post por Martin, já que eu não acompanhei o retorno. A volta foi acompanhado pelo piloto Helfi, experiente piloto e instruto do Aeroclube de São Paulo.

02.10.2007
Depois que a oficina da Montgomery de Frankfort avisou, que o Glasair estava pronto para voar de volta para o Brasil, o Helfi e eu embarcamos no dia 01.10.2007 para Chicago, seguindo para Frankfort, uma pequena cidade 200 km ao sul de Chicago, onde ficou o PT-ZMA. Curiosos, logo fomos ver o Glasair. A bequilha estava aparentemente pronta, a ignição LASAR ainda não tinha sido instalada.

Becky com Booby e Matt



Arriving at Frankfort, the airplane was not ready yet to fly.

03.10.2007
Hoje veio o técnico Ed Hobelman da Montgomery e instalou a ignição. Quando instalou os novos magnetos, aparentemente esqueceu as juntas dos magnetos, pois esbarrava muito óleo na parede de fogo e na área do motor. O trem de pouso também necessitava de ajustes. Depois de tirar o excesso de óleo e verificar minuciosamente os trabalhos executados, decidimos fazer um vôo de teste no dia seguinte.

Electronic ignition installed today. Test flight tomorrow.


04.10.2007
Fizemos um vôo de 30 minutos em volta do aeroporto de Frankfort para verificar o comportamento e os instrumentos da aeronave. Como tudo estava no verde e o pouso dentro do normal, decidimos para decolar no dia seguinte. A tarde escolhemos ainda quais dos itens a serem levados com o avião e quais a serem enviados por correio. Assim conseguimos reduzir o peso total da bagagem de 60 kgs para 20 kgs. aproximadamente O resultado foi o esperado: Enquanto o Glasair com excesso de bagagem era critico para pousar, agora com o CG dentro do limite, todos os pousos voltaram a ser normais. (Foto 19 antes do vôo de ensaio)
Test flight of 30 minutes today, everything OK; we decided to take off for Brazil tomorrow

05.10.2007
Fizemos o plano de vôo para Athens, ca. de 900 km. de Frankfort. Perto das montanhas dos Apalaches, o tempo começou a piorar bastante, Athens estava fechado para pouso VFR e desviamos para a pequena cidade de Elberton, onde pousamos. Encontramos um aeroporto abandonado. Na casa do vigia, o computador, o ar condicionado, o radio, tudo estava ligado, só não encontramos nenhuma pessoa. Depois de esperar ca. de 45 minutes, apareceu Randy, o administrador, totalmente relaxado e sem nenhuma desconfiança. Alias, nem perguntou quem somos e de onde chegamos. Abastecemos e continuamos nosso vôo para Fort Lauderdale, 925 km ao sul. Quanto mais nos aproximamos a Florida, mais piorava o tempo, obrigando-nos a desviar continuamente de chuvas fortes. Depois de 03.40 hrs pousamos, com vento de proa de 20 kts e rajadas até 25 kts. Pouso difícil e quase no escuro. No trecho de Elberton até Ft. Lauderdale não vimos o céu, voando quase sempre dentro de nuvens turbulentos e escuras. Foi um vôo bem tenso e desagradável.
Exaustos, solicitamos os serviços da FBO Banyan; pedi guardar o Glasair num hangar, pois eu estava preocupado, que os ventos fortes poderiam virar o pequeno avião. A Banyan ainda arrumou um bom hotel, indicou restaurantes e nos ofereceu transporte até o hotel. No dia seguintes, eles foram nos buscar no hotel na hora marcada. Um serviço de primeira, pagando-se somente a gasolina e o hangar, se for o caso. Gostei muito. (Não tem foto, estávamos muito ocupados em pilotar e achar nosso caminho. Pousamos quase no escuro com vento forte)
Flight Plan to Athens; Athens closed for VFR, deviation to Elberton. Flight in difficult weather conditions to Fort Lauderdale, arriving at sunset, heavy rain and storm. Landing at sunset.

06.10.2007
Este dia começou com céu azul e ventos fortes de 20 kts. Fomos até a alfândega para acertar a saída dos EUA. Por nossa surpresa, a oficial que nos atendeu, declarou, que, para saír do país, nada temos que fazer. Quase não quis aceitar o canhoto de imigração.
O waiver, que o governo americano exige de aeronaves estrangeiros e que tanto me preocupou, nenhuma vez foi solicitado. Duas vezes, fazendo o plano de vôo por telefone, a pessoa do flight service, que atendeu, ainda perguntou para que serve este waiver. Eu também queria saber!

Precisa foi a previsão do tempo do Flight Service de Miami para Providenciales, que recebi por fone. Fui informado, que na hora prevista de nossa chegada à ilha, devemos esperar fortes chuvas na região. E assim foi.

Decolamos as 11.45 hrs. de Ft. Lauderdale rumo a Providenciales, 945 km distante. Com vento forte de proa, demoramos 03.50 hrs. para chegar. Quando estávamos perto de Providenciales, o controle nos avisou para apressar o pouso, pois tinha chuvas fortes na vizinhança do aeroporto e ventos fortes com rajadas até 25 kts. Na curta final para a cabeceira 10 vimos a chuva já batendo na cabeceira 28. No meio da pista, desviando para o taxiway, uma chuva torrencial nos alcançou, passando por cima do Glasair como uma avalanche. Ficamos 30 minutes sentados na aeronave, depois decidimos sair e enfrentar a chuva. Em um instante estávamos totalmente molhados. Pelo visto, a previsão de tempo de Miami estava certa.
Nós nos hospedamos no aconchegante hotel Paradise Island. La encontramos quatro jovens pilotos da FAB, que fizeram o translado de um novo Caravan para o Brazil. Na ilha de Providenciales é obrigatório contratar os serviços da Provo Air Center, que é bom, mas não é barato. Handling Fee, taxas de aeroporto e táxi ida e volta para o hotel $ 236.-.
(Fotos 22 Glasair com Caravan da FAB)
Flight from Fort Lauderdale to the Island of Providenciales; strong headwinds; clashing into heavy rain showers on the RWY while taxiing to the apron.

07.10.2007
Saímos de Providenciales as 09.45 hrs com destina a Ilha de Tortola, ao lado de St. Thomas, distante 985 km e 03.40 hrs de vôo. Esta ilha atende pilotos da Aviação Geral muito bem. Depois do pouso, o controlador pergunta se é para abastecer ou pernoite. Se é somente para abastecer, na hora ele aceita o plano do vôo por radio e dá ainda uma hora para abastecer e comer um lanche, sem pedir imigração ou General Declaration! Para abastecer deve-se sempre levar Dollares trocados, pois o frentista nunca tem troco.... Na ida para os EUA, paguei assim $ 22.- de “gorjeta” pra não perder tempo com discussões inúteis.
Continuamos com plano de vôo para Grenada, 877 km distante, porém o vento forte de proa mais uma vez nos atrapalhou e não conseguimos chegar ao nosso destino. Chegamos até o Aeroporto Internacional de Hewanorra, ao sul da Ilha de Santa Lúcia, distante 655 km em 02.50 hrs de vôo, pouco antes do por do sol. Neste hora ainda não sabíamos que este pouso imprevisto nos proporcionaria uma noite bem agradável. Perguntamos o pessoal da imigração sobre um hotel para pernoitar. O chefe nos disse, que bem perto do aeroporto tem dois hoteis: Um médio e um de luxo. Escolhemos o médio. O próprio chefe declarou seu expediente por encerrado e nos deu uma carona até o hotel. Lá encontramos uma recepcionista aborrecida e um jovem punk com uma cerveja na mão em sua frente. O hotel estava totalmente vazio. Não nos inspirou confiança e pedimos chamar um táxi. Já estava totalmente escuro; cansados e desorientados, aceitamos o preço de $ 20.- que o taxista pediu para nos levar até o outro hotel. Em seguida ele fez uma volta inteira pelo aeroporto para chegar pertinho do hotel que não gostamos. Porém, isto somente percebemos no dia seguinte.

Pelo menos ele nos levou ao hotel mais lindo, gostoso e confortável de toda a viagem, o Coconut Bay Beach Resort. Este hotel inclui no preço do quarto toda comida, bebidas de quaisquer marca e quantidade, uso das diversas instalações, night club, show na praia e restaurante de 24 hrs. Curtimos um jantar de piratas, com pratos típicos, vinhos finos e um show artístico acompanhado de tambores de Jamaica.
Tudo isso servido na praia do hotel sob um céu cheio de estrelas e uma brisa de vento manso. Ah..., como a vida pode ser boa.
No dia seguinte veio o mesmo taxista para nos levar até o aeroporto. De dia, notamos que a distância para o aeroporto não passou uns 300 m. Outra vez tentou cobrar $ 20.— sem o mínimo escrúpulo, mas não conseguiu. (Fotos 32 o Coconut Bay Hotel)
Flight from Providenciales to Tortola for refilling gas and from there to the Island of Saint Lúcia, staying at the best place of the whole trip, the Coconut Bay Beach Hotel. This was really gorgeous.

08.10.2007
Saímos cedo de Santa Lucia para Grenada, distância 222 km, que voamos em 50 minutos. Nosso objetivo era chegar ainda hoje em Cayenne, distante 1.360 km. Com uma autonomia de 07 horas (210 ltr Avgas) no tanque principal e 15 ltrs. no tanque da frente “header”, em condições normais, o Glasair faria Grenada até Cayenne folgado em 05 horas. Esperando ventos mais favoráveis na costa do Continente Sul Americano, fizemos um plano de vôo até Cayenne. Mais uma vez o vento forte de proa nos atrabalhou e tivemos que pousar em Zandery (Suriname), depois de 04.30 hrs, pois não iamos chegar em Cayenne antes do por do sol.

Fomos informados que Zandery não tinha Avgas!
Aí começou uma novela. Na cidade de Paramaribo, 40 km ao norte do aeroporto de Zandery, há um pequeno aeroporto para a aviação geral, onde se vende Avgas. Porém, of chefe das operações de Zandery, Steven Sumter, disse, que por lei é proibido transportar Avgas entre um aeroporto e o outro, porque poderia ser usado para misturar com drogas.

Pedimos que nos ajudem conseguir Avgas para poder continuar nossa viagem para o Brasil. O Steven, falando o tempo todo em Sranan Tongo, a língua do povo de Suriname, depois de mais de uma hora no telefone, nos disse, que ele teria uma solução para nosso problema: A esta hora já estava escuro em Zandery e pedimos também ajuda para encontrar um hotel. A solução dele era o seguinte: O caminho até Paramaribo a noite e perigoso e necessitaríamos de um taxista de confiança. Ele recomendou seu avô, que é pastor de um igreja local e taxista. Seu avô iria nos levar até Paramaribo, nos ajudaria encontrar um hotel e amanhã cedo iríamos procurar galões para poder transportar a gasolina. Exaustos e desesperados, estávamos dispostos a aceitar qualquer sugestão, desde que nos ajudassea a conseguir avgas. Sabendo que um padre seria nosso motorista e portanto o Senhor tão perto, nos fez sentir um pouco melhor neste fim de mundo. (Fotos: 40 + 42 Pouso em Zandery)

We left Saint Lúcia early to fly to Grenada for refilling. From Grenada we planned to fly to Cayenne, hoping the strong head winds would abate. Again, we did not make it and had to land at Zandery Airport, Suriname. We didn´t know, but Zandery has only jet fuel, no avgas. A colorful bunch of well intended people, which included the airport operation manager, his grand father, who become our cab driver and let us know that he was a priest – it was good to know that God was close at this end of the world - a small regional airline and four airport officials as well as hours of negotiations were necessary to overcome Suriname´s bureaucracy to get finally 120 ltrs of avgas for our airplane.

09.10.2007
As 08.00 hrs. do dia seguinte chegou o pastor/taxista; ele nos levou diretamente para uma loja de material de construção, onde vendiam galões de 20 litros, cada um por $ 25.-. Só que o galão em exposição era novo e limpo, enquanto os 06 galões que pedi e que eles me entregaram, eram sujos, por dentro e por fora com forte cheiro de xarope de Coca Cola. Pedi para limpar os galões, paguei $ 150.- e fomos para o pequeno aeroporto. Na BlueWing Airlines o pessoal já sabia que tem dois pilotos procurando Avgas. Comprei 120 ltr, por $ 215.-. Chegando no aeroporto de Zandery, quatro oficiais em uniforme nos esperavam para ver, se realmente, colocamos o combustível na aeronave. Quando terminamos o abastecimento, o chefe dos quatro me disse que eu teria que levar os 06 galões na pequena aeronave, pois não poderiam ficar em Zandery, é contra a lei do Suriname. Expliquei ao oficial, que não os 06 galões não cabiam no aviãozinho e pedi ao nosso pastor/taxista de aceitar como presente os 06 galões e levá-los para fora do aeroporto.
Com um gesto pastoral de generosidade ele aceitou a doação dos 06 galões e em seguida me lembrou, que lhe devo ainda $ 105.- pelo serviço de táxi.

Finalmente conseguimos decolar rumo a Macapá, deixando por trás mais uma batalha vencida, a cidade de Paramaribo, que tem certo charme a noite e um pastor/taxista “muy amigo”, ganhando um bom dinheiro de noite para o dia......

Os 890 km de Zandery à Macapá fizemos em 03.30 hrs, passando na vertical do aeroporto de Cayenne, lembrando a semana que passamos aqui no início da viagem. (Fotos 44 loja dos galões, 45 o pastor/taxista limpando galões, 48 no caminho para Macapá, 53 + 60 marca zero do Equador)

We left Zandery for Macapá, the first city to enter Brazil. Macapá is located on the northern shore of the Amazon river, with the equator crossing the city.

10.10.2007:
Voamos os 1165 km de Macapá até Palmas no nível 085, em 04.40 hrs. Até Marabá pegamos a típica formação de nuvens altas e turbulentos do Amazonas, voando quase o tempo todo dentro das nuvens, raras vezes enxergando a vegetação ou os rios embaixo. Depois de Marabá o tempo melhorou. (Fotos 61 + 62)
Flying from Macapá to Palmas, 1165 km over the Amazon Forest and cruising within the clouds at 8500 ft, we hardly saw anything of the Amazon far below.

11.10.2007:
Decolamos de Palmas para Goiânia, 710 km, onde chegamos depois de um vôo tranqüilo de 02.30 hrs. Abastecemos em Goiânia e continuamos para o Campo de Marte, São Paulo, 815 km, onde chegamos depois um vôo bonito e calmo em 03.00 hrs. (Fotos 70 chegando em casa)
Flying 710 km from Palmas to Goiânia for refilling and from there another 815 km to São Paulo, on a smooth and beautiful afternoon, we finally got home again.

A viagem foi o desafio.. Enfrentamos desafios, encontramos momentos difíceis mas também momentos de grande emoção e felicidade. Voando num aviãozinho feito com as próprias mãos, dentro de um espaço ilimitado, sentimos como nós seres humanos somos insignificantes e frágeis neste mundo imenso e maravilhoso.
The trip was the challenge. Navigating a small homebuilt airplane over the endless Amazon and the Caribbean Sea – and back again, gave us an idea of how infinitesimal small and frail we human beings are in this wonderful world.

Fotos da volta / Pictures