13 julho 2007

Macapá - Caiena (dia 3)

O dia amanheceu ensolarado, bem diferente das grandes nuvens presentes na tarde do dia anterior. Não deu para resistir, um rápido passeio até o rio Amazonas, na frente do hotel antes do café da manhã, afinal não é todo dia que acordo na frente do maior rio do mundo. No café da manhã Martin propôs voarmos até Guiana Francesa (Caiena) e em seguida até a Guiana Inglesa (Georgetown) para ganhar um pouco de tempo, concordei com a idéia.
Barco típico da região Amazônica, leva 7 horas para percorrer 150km, este vai até Chaves, na Ilha de Marajó, R$25,00, cada um leva sua rede.

O aeroporto da capital do Amapá fica perto da cidade, bem diferente da etapa anterior em Palmas onde a pista está a 20km do centro. A burocracia de saída do Brasil foi relativamente rápida, apesar da necessidade de 4 cópias da Declaração Geral (para que tantas cópias ???). Martin abasteceu o avião, R$4,90/litro !! (US$2/litro), enquanto fui fazer o plano de vôo e checar a meteorologia. Na sala AIS já dava para ver que o tempo estava razoavelmente limpo, mas com início de formações de nuvens típicas da Amazônia. Após a decolagem contatamos a Rádio FIR Amazônica, que manteve contato conosco parte do vôo, além da rádio Oiapoque. Subimos até 9.500ft, para voar por cima das formações de nuvens.
Voando no FL085 por poucos minutos

Próximo a Caiena o teto baixou bem, conforme a previsão meteorológica, o tempo já estava bem nublado, mas em condições VFR chegamos, Martin fez sua primeira aproximação ILS – VFR no Glasair.

Na reta final chuvosa em Caiena (Cayenne - Rochembeau)

Chegamos a França ! Com as bandeiras da França e da União Européia. Estacionamos próximo ao gigantesco cargueiro Antonov Russo. Enquanto Martin abastecia, eu iniciei os trâmites burocráticos, além de checar a meteorologia e preencher o novo plano de vôo.

A sala de meteorologia é muito boa, com toda sofisticação encontrada na França, mostraram as formações de CBs e TCUs na costa Atlântica movendo-se para Oeste, justamente para a nossa rota. O controlador do aeroporto (Gilles) apareceu na sala, e veio bater papo comigo. Deu várias dicas na região, informando que o pouso e pernoite em Georgetown é tranqüilo. Mas realmente é bom evitar pousar no Suriname, pois a taxa de pouso é alta, ao redor de US$200,00 . Reclamou muito das condições encontradas para pequena aviação estrangeira no Brasil, roubaram gasolina dele em Manaus e Boa Vista, além de cobrarem “propina” na maioria das vezes, com exigências burocráticas enormes, será que não conseguimos mudar essa situação ?

O grande cargueiro Russo Antonov AN124, ele leva 120toneladas de carga !

Com o plano de vôo preenchido, fomos para o terminal do aeroporto, por uma portinha lateral. A taxa de pouso de Euro 8.- no final nem foi cobrada de nós, pois o funcionário não conseguia inserir o tipo de aeronave “experimental” ou Glasair no sistema, nos desejou boa viagem ! Já a polícia Federal, não gostou da nossa passagem, pois “entramos no país” por uma portinha lateral do terminal, e apenas passamos por eles na saída. Sem perguntar muito, pedi ao Martin de bater uma foto minha ao lado do Antonov, como me senti pequenininho, o avião é monstruso. O avião tem um visual um pouco sinistro, talvez pelo seu tamanho, mas também pela concepção antiga de avião de transporte militar.


Decolamos rumo a Georgetown, o controlador num forte sotaque Francês nos pedia o estimado a posição “Mikok” , que nós não tínhamos em nossa carta visual. Martin pediu para ele repetir o nome da localidade umas 3x, mas mesmo assim não entendíamos. Aí finalmente informamos que nosso vôo é visual, e não estávamos com a carta para vôo IFR. Essa situação já nos deixou um pouco tensos pois era difícil entender o que ele falava.
O vôo nesta região é sobre a “Amazonie Francaise” mata totalmente fechada, bem diferente do Brasil, onde existem muitas clareiras abertas com terreno simplesmente abandonado. A meteorolologia começou a piorar 50NM fora de Caiena, descemos para 3000 pés, mas mesmo assim não bastava. O horizonte estava todo azul escuro, indicando chuva além de alguns CBs cujas torres era bem visíveis. Os paredões de chuva indicavam que estamos quase numa rua sem saída desviamos para o litoral mas mesmo assim não havia passagem. Estávamos voando no (infeliz) período da tarde. Não é recomendável voar neste horário, na região pois além da nebulosidade formada pela CIT (ITCZ) , a grande umidade do solo provoca acelerada evaporação que contribui para alimentação de mais formações chuvosas. A floresta parece um tapete verde, com suas leves ondulações transmitem uma falsa sensação de paz. As árvores lá embaixo tem 30m de altura, além de mata totalmente fechada, não tenho ilusões no caso de problemas.

Martin estava um pouco preocupado, o que é natural pois colocamos como objetivo chegar em Georgetown, e a impossibilidade sempre nos frusta um pouco.
Voltamos para Caiena já que tempo estava muito fechado a frente e não dava para contornar sem se aventurar muitas milhas para dentro da Guiana. Voar baixo em cima de uma mata fechada não faz bem para o “coração”. Para o lado do litoral a situação estava pior, já que as formações de CBs estavam mais ativas, então voar baixo próximo a praia não era boa opção.
O alegre meteorologista Francês, em Caiena, ou vc fala Francês ou fala...

Após a chegada, a meteorologia mostrou o óbvio, deve-se voar de manhã nesta região, pois a evaporação é acelerada, gerada pela umidade da floresta. Normalmente após o almoço, CBs, TCUs, chuvas e nuvens baixas formam-se rapidamente. Martin resolveu então abastecer o avião, mas assim que tirou a capa da cabine, começou a chover, operação AVGAS abortada. Esperamos um pouco a chuva diminuir, e fomos andando para o terminal, desta vez ao lado dos aviões grandes.

Alagada floresta na Amazônia Francesa

Entre nossa saída e volta, o Boeing 777 da Air France que faz a rota diária Paris-Cayenne também quando passamos caminhando ao lado dele, caminhando para a área de desembarque de passageiros. Estávamos a um passo de sair e pegar o nosso Táxi, quando perguntaram, onde está o seu visto Francês ?? Com estive na França 2 anos atrás com outro passaporte, nem havia pensado neste assunto... Esperamos um bom tempo, até sermos conduzidos até a sala da Polícia. Tive que argumentar, em Francês, Inglês e posteriormente Português que voltamos a Caiena devido ao mal tempo. Ou seja fizemos uma escala técnica, e não concordava em pagar os Euro 60 por um visto de um dia. Depois de um bom bate boca, alegando escala técnica, saiu um “Visa d’ Escale válido por 2 dias, gratuito.

A floresta bem fechada e preservada

Táxi, Mercedes, ficamos no hotel Central (Euro55/noite). Sem internet (que raiva), com direito a passeio pelo centro, assistir a festa militar da queda do aniversário a queda da Bastilha a ser comemorada no dia seguinte (14/07). O território Francês tem 220.000 habitantes, com a maior parte morando entre Caiena e Korou (centro de lançamento dos foguetes Europeus). Quase toda economia da região gira em torno da Governo Francês.



Propaganda para visitar Centro Espacial de Kourou, centro de lançamentos da Agência Espacial Européia, localizado a 100km de Caiena

4 comentários:

Anônimo disse...

Oi Thomas, sou o Fabiano, amigo do Leandro. A gente se conhecer num jantar um pouco antes dessa sua viagem, aqui em SP. O Lendro me mandou o seu blog, e estou achando incrível essa viagem de vocês. Parabéns pela coragem e o desafio. Muito boa sorte ao longo da viagem, e continuarei acompanhando. Um grande Abraço !!!

Fabiano Andreatta
http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=8792898799115833794

Anônimo disse...

Estranho esta exigência de visto para a França, pois este país não exige visto de brasileiros, e vice-versa. Estive em maio em Paris, e não foi necessário visto

Anônimo disse...

Lindas imagens!
Nesta época, já paroude chover faz tempo e aí os bancos de areia já são bastante visíveis e maiores. É quando o rio Tocantins ganha praias.rs Praia, com sol, muuuuito sol, calor de 35C e umidade de 30%, ou menos! Até Tucuruí fica tão seco (o ar) que a imensa represa é visível nas imagens de satélite, quase todo dia.
Fiquei de olho no Amapá, mais do que de costume,rs, para ver que bichos tinham por lá. Ufa! rs
Me dá um pedacinho daquele arco-íris? Aliás, dois, o principal e o secundário,que nem sempre aparece.
Daqui, da seca Sampa, desejo um céu azul para vocês, só com uns cumulinhos, pequenos.rs Os trópicos, difíceis de enteder, sempre desafiadores.
Boa sorte pra vocês.

Anônimo disse...

Thomas, esqueci de contar.
Na sexta, 13, aconteceu uma coisa aqui me fez lembrar mais ainda de você.
Apareceu um rondando, depois dois e, de repente, tinham 3 urubus no meu pedaço de céu, em pleno Paraíso, girando a maior térmica, no macio, divertindo-se. rsrs
Até segunda, tem muito Cb pra rolar ainda. Mas vocês chegam lá.
Alé! Alé!